"Não queiras que as coisas que acontecem aconteçam como desejais; mas desejai que as coisas que acontecem sejam como são, e a vida vos fluirá tranquilamente." Epicteto

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Um pouco de Kant: Aufklarüng


Que é Esclarecimento? Ou melhor, o que é esse tal de Aufklarüng? Segundo Kant, "é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado". Menoridade, nesse sentido, é o não-uso do pensamento próprio; é o "relaxamento" quanto ao autoconhecimento ou o conhecimento do mundo. Não apenas ao conhecimento, mas às próprias ações do homem, seja qual sentido for. O homem se acha incapaz de fazer uso de seu próprio entendimento; sempre ele precisa de alguém para direcioná-lo. Ele se torna culpado pois não possui "coragem e decisão de servir-se a si mesmo sem a direção de outrem."
O homem é covarde por não atender ao seu próprio eu, e assim faz utilidade de outras pessoas para realizarem as tarefas que ele mesmo deveria realizar. O homem não é íntimo de si mesmo. Ele está separado de seu eu: isso concerne a sua falta de decisão. Então, preguiça e covardia fazem com que as pessoas continuem "menores" por toda vida. Pois é cômodo ser menor. É tão fácil ser menor; não preciso me esforçar para nada, pois sempre tenho alguém para fazer por mim.
E quando surge um pequeno desejo de passagem para o Esclarecimento - que não é plena essa passagem -, as pessoas consideram
difícil essa transformação para a maioridade; e além do mais, a consideram perigosa. Pensar por si próprio, libertar-se é perigoso. É dificil desvencilhar-se da menoridade pois se tornou quase uma natureza. Para elas, é natural que alguém me dirija. Criou até um certo amor por ela, o que deixou-as incapazes de utilizarem seu próprio entendimento - pois, afinal, nunca tentaram mudar. "Ora, na verdade esse perigo não é tão grande, pois aprenderiam muito bem andar finalmente, depois de algumas quedas".
"Quem deles [dos indivíduos em estado de menoridade] se livrasse só seria capaz de dar um salto inseguro mesmo sobre o mais estreito fosso, porque não está habituado a este movimento livre. Por isso são muito poucos aqueles que conseguiram, pela transformação do próprio espírito, emergir da menoridade e empreeder então uma marcha segura". Esse trecho diz tudo em relação aos homens que tentam enfim se livrar dos grilhões desse estado de pequenez: caso conseguissem sair dessa situação, o salto seria tão inseguro pois este não está acostumado a viver livre, indepentende. Por isso consideramos difícil essa passagem, pois ela exige esforço; e quando conseguimos ser "maiores", não acabou. Precisamos seguir em frente; pois o Esclarecimento não é uma fase. É um processo: nunca chegaremos a estar plenamente esclarecidos, pois o esclarecimento se dá em nós como um processo, como uma transformação constante.
O indivíduo chega até a criar um amor pela menoridade, pois ele não exerce força alguma. Decidem ter amor por ela, mas ela trará incapacidade do indivíduo de realizar as coisas a sua maneira (a pessoalidade e instrução de viver sem dependência de tutela).
"Para este esclarecimento, porém nada mais se exige senão liberdade". Ou seja, o Auflkarung pode ser sinônimo de liberdade. E pode-se chamar de liberdade o uso público de sua razão. "O oficial diz: Não raciocineis, mas exercitai-vos! O financista exclama: Não raciocineis, mas pagai! O sacerdote proclama: não raciocieis, mas crede! (Um único senhor no mundo diz [que acho que é Deus]: raciocinai, tanto quato quiserders, e sobre o que quiserdes, mas obedecei!)". Isso é uma limitação da liberdade. O uso público deve ser live, e é ele quem pode realizar o esclarecimento. O uso privado da razão anda por limites; porém, ele não impede o esclarecimento. Uso público se entende por aquele, enquanto sábio, trabalha com a razão e faz dela a palavra diante de um público.
Em relação aos trabalhos que existem numa sociedade, nem todos pode-se agir como um sábio. Alguns membros de uma sociedade - certos trabalhadores - devem comportar-se de maneira passiva. Essa é uma prova de que eles não podem fazer uso de seu entendimento em pleno trabalho, como um sacaerdote está obrigado a fazer seu sermão sem questioná-lo. Contudo, isso não impede-o de fazer observações sobre os erros da Igreja, falhas com o que se relacionam com ela ou algo do tipo. Talvez ele possa expor essas observações fora da Igreja; mas dentro, ele seria punido por tais ações. Um jeito para de raciocinar em público seria escrever um livro: isso tornaria totalmente público as suas idéias quanto a um determinado assunto. Enquanto sábio, o sacerdote - e outros indivíduos que atuem em outras áreas - tem liberdade total, e até mesmo o dever de tornar público todas as suas idéias - bem intencionadas, é claro - dizendo o que há de errôneo no tal credo, e até dar suposições e prorpor propostas para tornar a Igreja uma melhor instituição para manter a essência da religião.
Para fixar melhor, um outro exemplo: um professor, enquanto faz uso de sua razão no espaço particular, tal se define como uso privado, pois é um uso doméstico. Já como sábio, o professor, por meio de suas obras, pode falar para o verdadeiro público - fora de seu trabalho, pois neste ele atua como um membro passivo de suas idéias -, o que se chama de uso público, que goza de ilimitada liberdade: fazer uso de sua própria razão e falar em seu próprio nome. Pensando assim, introduz-se 2 campos: o campo em que as pessoas se submetem e que devem agir passivamente (uso privado) e o campo livre em que elas têm o direito de tornar público os seus entendimentos (uso público).
"Mas é absolutamente proibido unificar-se em uma constituição religiosa fixa, de que ninguém tenha publicamente o direito de duvidar, [...] e com isso por assim dizer aniquilar um período de tempo na marcha da humanidade do caminho do aperfeiçoamento, e torná-lo ifecundo e prejudicial para a posteridade". Mesmo no domínio da RELIGIÃO, eu tenho que dar espaço à dúvida em função ao Esclarecimento. Não duvidar seria como negar toda capacidade humanaa de aperfeiçoamento, de um caminho melhor para a "bem condução da razão"(Descartes). É preciso usufruir os dotes do homem e não torná-lo inútil perante o seu grande conhecimento. Um homem, claro, pode adiar seu esclarecimento, "mas renunciar a ele, [...] significa ferir e calcar os pés os sagrados direitos da humanidade". Significa ser conservador: não mudar o que está constante, não mudar o que está cômodo. Que é manter a menoridade.
Mais uma parte desse texto afirma que o Esclarecimento é um processo: "vivemos agora em uma época esclarecida? a resposta será: não, vivemos em uma época de esclarecimento". Ainda permanece a tutela; por isso não vivemos numa época esclarecida. O homem precisa evoluir muito para que, na religião, possam ser "capazes de fazer uso seguro e bom de seu próprio entendimento sem serem dirigidos por outrem". "[...]esta é a época de esclarecimento".
Kant luta contra o obscurantismo(sombras na utilidade da razão): é possível o Esclarecimento em todos os âmbitos. Só depende de um ato de coragem. Kant escolheu a religião para falar da tutela pois esta é um grande exemplo de supertutela.


segunda-feira, 5 de abril de 2010

Νάρκισσος, o anti-herói da rebusca do próprio ser

Talvez um nome não muito criativo. Mas o que eu quis expressar aqui não é a plena alusão ao Narcisismo, muito menos mostrar-me como um adepto desse pensamento. Existem vários lados de se ver esse mito, como também o de seu movimento, o Narcisismo. Como Freud dizia, todos nós o possuimos desde o nascimento. Mas não ao extremo: a fase adolescência é muito comum nos acharmos diferenciados dos outros, mas isso não permanece intenso até o resto da vida. Vamos encontrando pessoas perfeitas para nós, e percebemos que não somos nós apenas o Rei do xadrez, ou seja, a "peça-chave" principal, para que tudo nasça ou acabe. Mas ainda não cheguei onde quero chegar.
O termo "a flor de narciso" tem várias objeções e interpretações. Não digo respeito apenas à flor propriamente dita que se chama narciso, ou a flor que ficou a beira da "fonte" que apareceu depois que Narciso morreu, de tanto admirar a imagem refletida da água. O que quero dizer também é que essa flor é única; e nossos serem provêm dela. Ou seja, somos únicos, como a flor que nasceu "de" Narciso. E por sermos únicos, temos relação com o narcisismo: a paixão por si mesmo. Não a paixão esmagadora, cruel, exacerbada; mas aquela leviana admiração por nós mesmos (seautou, transliteração do grego) nos mostra o quanto nos diferenciamos por outros e quanto somos únicos, ou seja, divergentes do resto. Mas como eu disse, esse sentimento é fraco; logo que conhecemos alguém, vemos que não somos os "únicos" (entende a expressão? únicos = especiais, diferentes positivamente) da terra, mas que conhecemos outros tipos de únicos, que é claro, diferente de nós, que acabamos nos interligando - coesão, para Durkheim.
Nunca fui exageradamente narcisista, nem fui tampouco fraca em não ser narcisista. Fui um pouco de cada, ou talvez de nenhum. Então, é mais ou menos isso que eu quis expressar. É claro, não nego, existem outras explicações para este termo. Afinal, todos nós somos únicos (não para nós mesmos, mas também para outros, que é esse o X da questão que mostra a fraqueza do narcisismo quando atingimos a maioridade - que não é bem na linhagem que Kant dizia -, mas no sentido de maturidade mesmo. [É a partir daqui desse conceito que Kant entra - Aufkarung, um dos maiores e melhores conceitos que eu já li nessa vida humana {que por hora já vivi outras que não seja humana}]).